Argumento
Acompanhamos, ao longo das últimas décadas, uma importante transformação na nosografia dos transtornos mentais que atravessou diretamente a clínica da saúde mental. A dissolução das antigas entidades nosológicas e o rompimento com a nomenclatura psicanalítica produziram um campo clínico e discursivo que não alcança a complexidade dos comportamentos e produções psíquicas contemporâneos. Em parte este problema é colocado em função da escolha metodológica subjacente aos manuais de classificação contemporâneos. Ateóricos, como se autodenominam, estes manuais agrupam empiricamente os sinais e sintomas do sofrimento mental sem qualquer consideração acerca do sujeito e suas singularidades. Além disso, como é o sintoma diretamente observável que orienta o diagnóstico, a sua remissão termina por ser o principal objetivo da intervenção terapêutica reduzindo a prática e o raciocínio clínico à prescrição medicamentosa.
Esta proposição metodológica tem efeito direto sobre o sujeito e o profissional que escuta seu sofrimento. O sujeito, do seu lado, vê-se pertencente a uma classe nosológica que embora produza efeitos diretos em sua vida cotidiana em nada representa o seu sofrimento e singularidade. Por outro lado, os profissionais, atravessados por esta prática diagnóstica, são confrontados com sujeitos que obviamente não se conformam às modalidades descritivas que o identificam e que passam a exigir a invenção de novas tecnologias do cuidado com aquele que sofre.
Neste contexto o Núcleo de Investigação dos Comportamentos e Produções Psíqucas Singulares tem um compromisso que é clínico, ético e político ao mesmo tempo. A partir das redes sociais dispararemos notícias, produções intelectuais e artísticas que tem o intuito de apresentar algumas narrativas sobre os comportamentos e as produções psíquicas singulares da nossa época.